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Splash Feminino

 

Cristiane Monteiro Pereira

Idade: 31 anos

Profissão: Ilustradora, Grafiteira,

Profissão de formação Designer de Interfaces Digitais

 

1 - Como você vê a importância do grafite para a sociedade?

Vejo como um meio de comunicação, que gera conteúdo e informação, é a forma mais democrática de se ver arte porque está por todos os lugares, independente de classes sociais e principalmente é a ligação entre as periferias do mundo.

 

2 - Como você começou no grafite?

Comecei assim como a maioria das pessoas na curiosidade. Conheci primeiro na minha faze de adolescente o movimento Hip Hop em 1999 e nessas idas em casas de culturas de São Paulo descobri os 4 elementos, desses elementos logo me identifiquei com o graffiti, na época os grafiteiros se encontravam com suas pastas cheias de desenhos e isso me chamou a atenção, era nas trocas das folhinhas que nós acabavamos nos conhecendo. Depois logo comecei a observar nos muros da cidade a dimensão dos graffitis e pensava na dificuldade e no desafio de fazer um desenho que era  um esboçado no papel e depois passado pra parede, isso me chamava a atenção. Conheci alguns colegas de escola que também começaram a se interessar por graffiti a gente acabou conhecendo mais esse universo juntos. Nesse momento descobri as revistas que tinham além do conteúdo sobre o que rolava no meio do movimento Hip Hop nela tinham partes destinadas ao graffiti, assim conheci os primeiros grafiteiros de renome fora do nosso país e nessa turma incluía a primeira grafiteira que vi em revista na minha vida a “Miss Van”. Grafiteira francesa que logo me indentifiquei pelo estilo feminino e colorido. Nessa mesma revista conheci alguns trabalhos de outros grafiteiros formados por Crew também como M.A.C.I , logo me identifiquei com os trabalhos do “Kongo”, “Lazoo por ter uma representatividade afro e do movimento hip hop, sempre com muita gente e letras compondo os espaços em seus graffitis.

Comecei a pintar depois de conhecer tudo isso em 2001.                 

E comecei a me interessar pelo graffiti principalmente porque já desenhava des de pequena acompanhando os trabalhos de pinturas da minha mãe.

 

3 - Como você escolhe um lugar para grafitar?

Pergunta interessante. Geralmente nunca paro muito pra pensar nisso. Vejo um muro que muitas vezes favoreça o que eu vou fazer, como por exemplo eu gosto de fazer trabalhos grandes, então vejo mais o tamanho do espaço. Vejo também se o muro é lizo, chapisco, no tijolo, se tem alguma infiltração, essas são as primeiras avaliações de escolha de um muro. Se o muro é lizo o trabalho fica muito mais fácil sem dúvidas, já os outros tem suas complicações isso significa gastar mais material e também se dedicar mais, porque a parede chapisco por exemplo, tem textura isso deixa o trabalho muitas vezes lindo e muitas vezes não. Vai depender de cada grafiteiro também como trabalhar cores e elementos.

 

4 - O que não pode faltar em sua arte?

O que não falta na minha arte é cores, formas e a representatividade Afro. Gosto de trabalhar o lúdico em cima do afro, da mulher negra, da figura feminina, porque me identifico e por ter minhas raízes afrodescendente

 

5 - Você já grafitou em outros lugares?

Em São Paulo cidade capital nas zonas Norte, Sul, Leste, Oeste e onde moro Embu das Artes, Prainha Branca Guarujá, Sorocaba, Diadema, ABC, Mauá. Em La Paz na Bolívia, no Chile, no Vitória (ES), Rio de Janeiro, Salvador (BA), Itapetinga (BA), Recife (PE), Curitiba (PA)

 

6 - Qual você considera o grafite mais importante para você?

Acho que a cada um que me sinto desafiada as vezes por alguma dificuldade ou um teste de experiência nova que resolvo desenvolver se torna importante. Tenho um carinho enorme por todos, todos me proporcionaram coisas boas, momentos especiais, desafios novos impostos por mim mesma, ou pelo desafio da rua. Os que me chamam a atenção são os maiores que já fiz. Tem um em especial que fica na Estrada de Itapecerica que é gigante esse eu diria que foi um bem especial, porque senti que a minha evolução maior partiu desse muro pintei quarenta metros de muro sozinha, percebi a minha dedicação a cada detalhe, a cada dificuldade, e isso me fez evoluir. Por isso acho que o muro da Casa do Mel foi bem importante pra mim.

 

7 - Você já sofreu preconceito por ser grafiteira?

Essa pergunta é aquela que ninguém quer calar. Bom eu comecei pintar com os meninos, na época em que comecei não havia muitas meninas, as que tinham estavam cada uma em um ponto da cidade. Acabei aprendendo lidar com os meninos do meu jeito, tendo postura, não dando brechas, ou até mesmo sem insinuações, sempre mais na minha, a final de contas mesmo sendo amigos e tal minha preocupação sempre foi em me dar o respeito e ser respeitada, não é porque andar com muitos homens faz eles pensarem ou ter o direito de achar que está a disposição. Aprendi de casa que homens e mulheres podem fazer o que quiserem. Só quando realmente eu estive na rua vi que esse tipo de preconceito vindo deles acontece, fui ter a real noção disso com o tempo, nas minhas andanças com o graffiti por aí. Piadas de homens geralmente sempre ouvimos, isso não apenas de grafiteiros, as vezes no próprio relacionamento te botam defeitos. No graffiti alguns me subestimaram, outros me ajudaram, outros deram em cima, outros me respeitaram, outros me criticaram, outros me aplaudiram. Aprendi a lidar com isso. Aprendi a ensinar alguns dos meus amigos a ver as mulheres de outros ângulos. De vez em quando ainda sinto que mesmo eles que apoiam e que dá a mão as vezes reproduz um pouco do machismos. Mas o preconceito é uma coisa que está na sociedade, hoje me preocupo mais em fazer o meu trabalho com qualidade e saber ouvir.

 

 8 - Tem alguma história marcante envolvendo o grafite?

Sim quando a minha vida virou de cabeça para baixo e pensei em parar de pintar. Nesse período o meu trabalho nunca ficava do jeito que eu queria, eu perdia muito o foco, problemas de relacionamentos e familiares me afetaram e muito. Foi quando decidi contar pra um amigo e ele me fez acreditar e me incentivou a continuar.

 

9 - Tem alguma história triste envolvendo o grafite?

Acho que quando eu vou pintar em alguma comunidade barra pesada me faz pensar sobre a nossa desigualdade gritante. De ver as vezes crianças sem ter um chinelo pra usar. E mulheres e homens se entregando pra bebida, as drogas e o crime. A rua faz você ver além, o graffiti fez isso comigo.

 

10 - O que simboliza o grafite em sua vida?

Tudo que sou, que aprendi, é meu estilo de vida. Acordo e durmo pensando em graffiti e em tudo que me rodeia relacionadas a arte a criação. Reflexão, conhecimento e contato com os outros. Representa a rede entre grafiteiros e pessoas em geral. Ação e reação.

 

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