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Cartograffitti

                 Por definição da iniciativa, a cidade é o suporte: para disputar e tencionar os espaços de poder na cidade, para reunir diversos artistas renomados da cena da arte urbana, e cobrir os espaços cinzas da pauliceia através da técnica da cartografia paulistana, tanto física quanto conceitualmente.

​                 Cartograffiti é o projeto idealizado e coordenado pelo artista Mauro Neri Sérgio da Silva - Mário - contando com o patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura por meio do edital Arte na Cidade. A cartografia foi o principal recurso para desenvolver murais-graffiti em 21 pontos da capital: desde o extremo sul, centro-norte, centro-oeste, terminando no centro-sul. Grajaú, Santo Amaro, Rebouças, Ponte Estaiada, Rodoanel, 23 de maio, Luz, Radial Leste – para citar alguns dos lugares não-lugares onde pode se ver os murais e desenhos em cores fortes como vermelho, azul ou amarelo; com o logo do Cartograffiti ou a palavra Ver.

​                 A exposição do projeto Cartograffiti, no Centro Cultural de São Paulo (24 de janeiro a 29 de março) expõe as intervenções através de fotografias – uma das maneiras de trazer o trabalho de artistas para o espaço fechado, além de abrir um campo de reflexões sobre o que é grafite, como ele se expande na cidade, quais foram as barreiras enfrentadas durante a realização do projeto e a polêmica envolvendo o graffiti e sua representação versus o poder público.

 

 

               

​                 Pelo décimo segundo ano consecutivo, celebra-se o dia 27 de março como o dia do Graffiti – uma homenagem à morte, em 1987, do grande pioneiro em grafitti no Brasil, Alex Vallauri. Portanto, promovem-se ações – entre elas, o debatepapo sobre o projeto no dia comemorativo.

​                 “A partir de 2002 passei a ocupar as ruas, escolhi-as como espaço e audiência para a minha intervenção”, afirma Mário durante o debate. De acordo com os idealizadores e participantes, não bastou somente percorrer as ruas da cidade, mapeá-las, pintar muros e registrar o trabalho final. Adquiriu-se, ao longo da execução, uma atenção cada vez maior para que tipo de cidade a população pode ou não escolher ver: o que estão olhando nos muros da cidade? As pessoas gostam da pichação? Das propagandas? E do graffiti?

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​​                 Questiona-se se é possível escolher o que gostaríamos de ver na megalópole. O que a arquitetura, as propagandas, os grafiteiros, os pixadores e o poder público estão propondo para a paisagem da cidade? Para aqueles que não tem a audácia prática de colorir viadutos e paredes, estão ouvindo e opinando? O idealizador do Cartograffti defende que a mensagem escrita na rua chama atenção para problemas sociais, injustiças, ou simplesmente abre a janela para uma poesia. “A arte está mais no olho de quem vê do que no olho de quem faz.”

​                 Existem visões divergentes sobre o graffiti – ora visto como ato de vandalismo, invasão e poluição visual de espaços públicos, ora como arte em cimento e concreto. Em 2010, a prefeitura abriu um edital para financiar criações em uma nova visualidade com o “Arte na Cidade” 

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​​                 Questiona-se se é possível escolher o que gostaríamos de ver na megalópole. O que a arquitetura, as propagandas, os grafiteiros, os pixadores e o poder público estão propondo para a paisagem da cidade? Para aqueles que não tem a audácia prática de colorir viadutos e paredes, estão ouvindo e opinando? O idealizador do Cartograffti defende que a mensagem escrita na rua chama atenção para problemas sociais, injustiças, ou simplesmente abre a janela para uma poesia. “A arte está mais no olho de quem vê do que no olho de quem faz.”

​                 Existem visões divergentes sobre o graffiti – ora visto como ato de vandalismo, invasão e poluição visual de espaços públicos, ora como arte em cimento e concreto. Em 2010, a prefeitura abriu um edital para financiar criações em uma nova visualidade com o “Arte na Cidade” (apesar de ter premiado poucos artistas urbanos, pois foi submetido a críticos e curadores do MASP, Pinacoteca e Bienal de São Paulo.) O Cartograffiti foi, portanto, uma ação acertada na democratização do dinheiro público.

(apesar de ter premiado poucos artistas urbanos, pois foi submetido a críticos e curadores do MASP, Pinacoteca e Bienal de São Paulo.) O Cartograffiti foi, portanto, uma ação acertada na democratização do dinheiro público.

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Reprodução/Projeto Cartograffitti

​                 Isso não impediu o ataque das pixações aos painéis dos artistas – além do comportamento oscilante do governo municipal, que apaga tanto quanto promove a arte na rua. Esse foi o caso, por exemplo, do Programa Cidade Limpa cujo resultado foi apagamento de painéis do Cartograffiti e os Gêmeos na Avenida 23 de maio.

​                 Constatou-se durante o desenvolvimento que não há acordo na gestão municipal em relação aos financiamentos e políticas: enquanto a Secretaria da Cultura queria avançar, a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras apagava o que havia sido feito.

 

​                 “Recebemos tantas pessoas de fora, e é impressionante a admiração que sentem pela arte nas ruas de São Paulo. É difícil responder que o poder público, ao invés de incentivar, acaba reprimindo essa expressão”, comentou José Mauro Gnaspini da Secretaria Cultural e organizador da Virada Cultural há oito anos.  Alegou também que a Secretaria continua incentivando e estudando a expansão de graffitis, inclusive prevendo uma grande iniciativa para a Virada Cultural deste ano.

​                 “O grafite é uma forma de arte que não pede licença ou permissão para existir, nem conquistar espaços ou reconhecimento na cidade,” diz Binho Ribeiro, curador da Bienal de Grafite e do Museu de Arte Urbana. Opinião semelhante à de Mário, que acredita que o grafite não vai se institucionalizar, não deixará de ser marginal. “Não pedi autorização para muito do que já fiz nas ruas.”

​                 “Não sei quantas vezes nesta estrada eu pintei e já fui apagado. Já fui agredido, fui para delegacia e vi gente morrer,” contou Enivo, artista de rua há 16 anos e convidado para pintar os Arcos de Jânio.  Mesmo com o apoio da Prefeitura, em fevereiro deste ano os painéis do patrimônio histórico foram alvos de críticas. Destruído pelo tempo e quase esquecido pelos paulistanos, os Arcos de Jânio ganharam imagens e cores. Enivo acredita que foi quando finalmente o graffiti consolidou seu papel como arte: resultado das reflexões, preconceitos e expressões nos murais. Entretanto, gerou-se por parte da população uma repulsa em torno do mural do negro, cujo o motivo foi a dita semelhança com Hugo Chavez e a referência ao comunismo.

​                 Tanto Enivo quanto outros artistas participantes foram indagados até no Facebook se se tratava do político venezuelano ou não, além de que receberem ameaças. “O trabalho era puramente através da poesia, intelectualidade e espiritualidade, mas guiou-se sem intenção alguma para o cunho político.”

​                 E o graffiti, descriminado e às vezes criminalizado, vem ocupando também a cada vez mais as galerias e museus. É neste contexto que o debatepapo apresentou brevemente outra onda, ainda tímida, de pensamentos entre os grafiteiros: a gourmetização da arte urbana. Será que está sendo permitida demais?

​                 Suposições para o que perdura em meio a todas as polêmicas, o amor pelo graffiti – “sua alma segue firme e forte.” completou Binho Ribeiro.*

 

Confira as imagens:

 

*Com colaboração de Letícia Sabbag e Vinícius Rodrigues

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